Certa vez, queimaram um índio e a justificativa era que pensaram ser um mendigo. Vai ver no mundo em que vivem, a vida de um mendigo não vale nada. Outro dia o pai de um dos jovens que espancou uma moça, disse que o filho não precisava ser preso. Depois destes últimos eventos o que pensar sobre essa juventude? O que está havendo no seio das famílias que criam seres humanos de tão má índole, tão cruéis? O que está fazendo com que as pessoas se tornem tão insensíveis e duras?
Nossa sociedade cada vez mais individualista e capitalista, diz que você pode ser, fazer ou comprar o que quiser. A carência de afeto, limites, amor, respeito, solidariedade e companheirismo, tornam os familiares cada vez mais distantes e fazem com que os jovens criem vínculos doentios com pessoas “erradas”. Vejam o caso da menina que matou os pais com a ajuda do namorado.
Hoje importa mais ter do que ser. Ter carro do ano, ter dinheiro, ter um emprego invejável, ter roupas caras, ter jóias, ter eletrodomésticos de última geração, ter eletroeletrônicos, ter, ter, ter! Então esquecem do ser e passam a medir sua felicidade pelo ter.
Na tentativa de tornar a vida menos vazia, aqueles jovens abandonados à mercê da crueldade do mundo e de valores equivocados, queimam um índio, espancam uma trabalhadora voltando para casa, outros arrastam uma criança presa por um cinto de segurança, outros começam a traficar drogas, outros invadem uma fazenda e espancam uma senhora até a morte.
Enveredam-se pelo mundo do crime como se qualquer coisa fosse melhor do que suas tediosas vidas. Fazem judô, caratê, inglês, francês, espanhol, balé, natação, jiu-jítsu, jazz, musculação, estudam nas melhores escolas, fazem intercâmbio e etc. Isso não é o suficiente? – Perguntam os pais assustados. Claro que não! Filhos precisam de carinho, atenção, apoio, orientação. Precisam viver em ambientes saudáveis, precisam de figuras parentais com as quais possam se identificar e desenvolver personalidades saudáveis, com valores éticos e justos.
Os pais, na maioria das vezes acham que o deslize de seu filho foi apenas uma brincadeira, ou apenas uma reação de alguém que exagerou do uso de bebidas alcoólicas, drogas ou qualquer outra coisa. É triste e o que podemos constatar é que muitas vezes, os pais são coniventes com todo esse horror. Uns chegam a dizer: “Quem sabe sendo preso ele aprende”. Mas será que ele não poderia ter aprendido antes? E o sistema penitenciário do país vai ensinar alguma coisa boa para esse jovem? Outro pai é capaz de dizer: “Mas botar meu filho, que estuda e tem caráter preso junto com outros presos?”. É isso que faz os jovens acreditarem que matar, espancar ou atear fogo em alguém menos favorecido do que eles é natural.
Outro dia lia um texto de Marcelo Coelho que achei muito coerente. O autor falava sobre essa questão de se justificar ou de procurar justificativa para cada ato insano cometido pelo jovem. O problema está aí, de acordo com ele. Em justificar o injustificável. Quanto mais procurarmos justificativas para os atos desses jovens, mais horrores acontecerão. Não se trata de justificar, mas de cuidar para que esses erros não sejam cometidos novamente.
Será que esses “meninos”, esses “garotos”, esses “adolescentes” (quanta ilusão nestas palavras!) tiveram uma educação liberal? Acostumaram-se à “cultura da impunidade” que predomina no país?Então cabe àqueles que ainda acreditam que as coisas podem ser diferentes, lutar em prol de uma nação mais justa, de melhores condições de vida para todos, da valorização do humano, da reestruturação das famílias, de uma educação com valores nobres e éticos.
Pode ser. Mas isso não explica tudo. Poderiam drogar-se sozinhos, dedicar-se a pichações, depredar caixas eletrônicos na calada da noite. Só que seria pouco. Tentando achar uma explicação para o caso, concluo que o erro está na minha própria pergunta. Fala-se muito na “cultura da impunidade”, mas existe também uma “cultura da explicação” (...) De tanto serem “explicados”, de tanto que as pessoas se esforçam por entendê-los, é que nossos “jovens” acabam fazendo essas e outras proezas. Querem ser inexplicáveis; querem ser irracionais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário