Esses dias relendo meus escritos não publicados, refleti sobre
a importância das cicatrizes, mas também sobre outro fato igualmente importante
que é o cuidado para não nos apegarmos a elas. Nesse artigo, quero conversar um
pouco com vocês sobre isso.
Comecemos pelos relacionamentos:
As pessoas podem se aproximar de nós por diversos motivos, nem
sempre nobres. E a perspicácia que a gente adquire com o tempo é o que pode nos
proteger das ciladas. Algumas pessoas já
se aproximaram de mim porque me achavam influente e poderiam se beneficiar
disso, outras, porque entendiam que podíamos fazer boas parcerias, houve também
aquelas que queriam estabelecer trocas de todo tipo, que foram na maioria das vezes
muito ricas.
Perceba: não há mal algum em nos aproximarmos de alguém que
nos parece influente. A grande questão é não nos relacionarmos com os outros
apenas querendo tomar deles. Porque nenhuma relação se sustenta dessa forma.
Cada uma das pessoas com as quais me relacionei até hoje contribuiu
de alguma forma. Aprendi com as que não acreditam que tem algo a dar, ou não
querem. Aprendi com quem deu e também, com quem se excedeu na doação. O
equilíbrio entre o dar e receber, é algo que até hoje me exige cuidado. Porque
na minha construção como sujeito, eu acabei jogando muitas “pérolas aos porcos”.
Me relacionando com pessoas e grupos que
tomaram mais do que estavam dispostas a dar.
Alguns relacionamentos deixaram cicatrizes, outros marcaram
minha jornada de forma bonita e engrandecedora. Com as cicatrizes ou com as
belas marcas, repito: todas contribuíram de alguma forma. Gosto de pensar na
técnica do Kintsugi quando menciono as cicatrizes. Dependendo da nossa maturidade
na maneira de lidar com decepções, mágoas ou traições, o que fica é essa “marca
dourada” que diz doeu, mas foi curado. E depois dela, eu me fortaleci.
Sobre o Kintsugi
A técnica surgiu no século XV quando o xogum (mais alto
título militar concedido pelo Imperador, com grande poder político) Ashikaga
Yoshimasa enviou à China uma cerâmica de cerimônia do chá para restauro.
Quando ela retornou, o xogum não apreciou a técnica chinesa com grampos
metálicos e pediu a artesãos japoneses que desenvolvessem outra maneira de
restaurá-la. Ao invés de tentar disfarçar as falhas da peça quebrada, os
artesãos usaram urushi (laca japonesa) com ouro para colar os
pedaços e tornar evidentes as partes que haviam sido emendadas (...) A
técnica Kintsugi também possui caráter filosófico e se
aproxima muito do elemento Wabi
Sabi, por valorizar as imperfeições e aceitar o desgaste das coisas com
o passar do tempo. Ao invés de esconder as cicatrizes da peça, elas são
valorizadas e expostas, revelando uma nova beleza e tornando a peça única. (Japan
House SP)
Sobre as cicatrizes na pele e na alma
Há cicatrizes na pele e na alma. Eu tenho algumas no corpo.
Meu joelho esquerdo, por exemplo, tem marcas da infância e também da vida adulta,
certa vez, quando criança, bati o joelho em uma quina de uma escada de ferro, andando
de patins e ficou um pequeno pedaço do meu joelho lá. 😊
Já cai de bike, cai correndo na rua...
Amigas e amigos contemporâneos dizem que quem não tem
cicatrizes, não teve infância. É um exagero, claro, mas concordo que a “infância
raiz” tem dessas coisas!
A propósito, me lembro também quando um marimbondo cavalo me
picou e embora eu não seja alérgica, tenho a marca até hoje! Mas, o que eu lembro
disso, era como eu gostava de ir para o sítio do meu tio e brincar com meus irmãos
e meus primos por lá. A título de curiosidade, eu também já fui picada por um
escorpião, mas nesse caso, eu já era adulta. Colecionadora de picadas hahaha...
Bem, posso dizer então que guardo cicatrizes e marcas no corpo,
no coração e na alma. Cada uma delas me ensinou muito. Essas e outras histórias
marcaram a minha existência e forjaram a pessoa que eu sou. Creio que cicatrizes
servem para nos mostrar, que estamos vivas(os) e que é preciso muita coragem
para crescer e amadurecer.
Todavia, é importante que a gente não se identifique com as
cicatrizes.
Pois, é: as vezes – sem perceber, a gente pode se identificar
com a dor. Nesse caso, é comum achar que se algo está dando muito certo, é bom
se precaver porque uma hora vai dar errado. Ou, se algo parece fácil, não tem
valor; desconfiar quando as coisas estão indo muito bem e questionar o seu
merecimento. Ou mesmo não perceber quando é hora de baixar as armas, porque a guerra
acabou.
Outra perspectiva pode ser a de ter sofrido muito com alguns
relacionamentos e se tornar descrente das relações, como se nenhum ser humano
merecesse sua confiança, cuidado, dedicação e amor.
Voltando ao Kintsugi, quero terminar esse artigo com um
pouco de poesia: Podemos escolher o que fazer com as rachaduras da vida.
Preenchê-las com ouro e transformá-las, criando um ser humano forte, maduro e
iluminado por suas marcas de coragem de viver. Ou deixar os cacos soltos e
viver de forma fragmentada, sempre catando os caquinhos das “pedradas ao acaso”.
Termino – agora sim, com um vídeo no qual falo sobre os
vitrais...
https://www.instagram.com/reel/C1wgF7xueHG/?igsh=eXg5Y2xlb2R4cmE0
As cicatrizes na
pele, no coração e na alma são a prova de que estamos vivos. símbolos de força,
coragem, superação, aprendizado e maturidade.
Como está o seu vitral?
Aguardo seu comentário! Obrigada por estar aqui!
A imagem que ilustra esse artigo é do Canva e representa uma obra desse artista que vale muito conhecer! https://www.billiebondart.com
Quem é Cynara Bastos?
🧠 Psicóloga, mentora de
líderes e docente em educação corporativa.
🧠Apoio profissionais a
alcançarem um estado mental otimizado, integrando diferentes aspectos da
inteligência para adquirir um nível elevado de autoconsciência, adaptabilidade
e eficácia, utilizando seus recursos para evoluir para novas formas de
liderança, sendo capazes de desenvolver melhores relacionamentos, explorar o
ambiente de negócios identificando possibilidades e riscos, gerando ações e
soluções se valendo de um novo alcance mental.
Acumulando experiências com
grandes grupos educacionais como Ibmec e Insper, já atendi companhias de
diversos portes e segmentos através da Panta Rei e Consultorias Parceiras, em
programas de desenvolvimento de liderança como: ArcelorMittal, Magnesita,
Piracanjuba, Master Drilling Brasil, Celeo Energia, Chilli Beans, Galderma,
Constance, Sisprime, Syngenta, Grupo Tauá, Grupo Tenda, Localiza, entre outras.
ॐ
गृहपतये नमः
Om Grhapataye Namah
Nenhum comentário:
Postar um comentário