domingo, 13 de abril de 2025

Cicatrizes e Kintsugi: Como aprender com as dores sem se identificar com elas

 

Esses dias relendo meus escritos não publicados, refleti sobre a importância das cicatrizes, mas também sobre outro fato igualmente importante que é o cuidado para não nos apegarmos a elas. Nesse artigo, quero conversar um pouco com vocês sobre isso.

Comecemos pelos relacionamentos:

As pessoas podem se aproximar de nós por diversos motivos, nem sempre nobres. E a perspicácia que a gente adquire com o tempo é o que pode nos proteger das  ciladas. Algumas pessoas já se aproximaram de mim porque me achavam influente e poderiam se beneficiar disso, outras, porque entendiam que podíamos fazer boas parcerias, houve também aquelas que queriam estabelecer trocas de todo tipo, que foram na maioria das vezes muito ricas.

Perceba: não há mal algum em nos aproximarmos de alguém que nos parece influente. A grande questão é não nos relacionarmos com os outros apenas querendo tomar deles. Porque nenhuma relação se sustenta dessa forma.

Cada uma das pessoas com as quais me relacionei até hoje contribuiu de alguma forma. Aprendi com as que não acreditam que tem algo a dar, ou não querem. Aprendi com quem deu e também, com quem se excedeu na doação. O equilíbrio entre o dar e receber, é algo que até hoje me exige cuidado. Porque na minha construção como sujeito, eu acabei jogando muitas “pérolas aos porcos”.  Me relacionando com pessoas e grupos que tomaram mais do que estavam dispostas a dar.

Alguns relacionamentos deixaram cicatrizes, outros marcaram minha jornada de forma bonita e engrandecedora. Com as cicatrizes ou com as belas marcas, repito: todas contribuíram de alguma forma. Gosto de pensar na técnica do Kintsugi quando menciono as cicatrizes. Dependendo da nossa maturidade na maneira de lidar com decepções, mágoas ou traições, o que fica é essa “marca dourada” que diz doeu, mas foi curado. E depois dela, eu me fortaleci.

Sobre o Kintsugi

A técnica surgiu no século XV quando o xogum (mais alto título militar concedido pelo Imperador, com grande poder político) Ashikaga Yoshimasa enviou à China uma cerâmica de cerimônia do chá para restauro. Quando ela retornou, o xogum não apreciou a técnica chinesa com grampos metálicos e pediu a artesãos japoneses que desenvolvessem outra maneira de restaurá-la. Ao invés de tentar disfarçar as falhas da peça quebrada, os artesãos usaram urushi (laca japonesa) com ouro para colar os pedaços e tornar evidentes as partes que haviam sido emendadas (...) A técnica Kintsugi também possui caráter filosófico e se aproxima muito do elemento Wabi Sabi, por valorizar as imperfeições e aceitar o desgaste das coisas com o passar do tempo. Ao invés de esconder as cicatrizes da peça, elas são valorizadas e expostas, revelando uma nova beleza e tornando a peça única. (Japan House SP)

Sobre as cicatrizes na pele e na alma

Há cicatrizes na pele e na alma. Eu tenho algumas no corpo. Meu joelho esquerdo, por exemplo, tem marcas da infância e também da vida adulta, certa vez, quando criança, bati o joelho em uma quina de uma escada de ferro, andando de patins e ficou um pequeno pedaço do meu joelho lá. 😊 Já cai de bike, cai correndo na rua...

Amigas e amigos contemporâneos dizem que quem não tem cicatrizes, não teve infância. É um exagero, claro, mas concordo que a “infância raiz” tem dessas coisas!

A propósito, me lembro também quando um marimbondo cavalo me picou e embora eu não seja alérgica, tenho a marca até hoje! Mas, o que eu lembro disso, era como eu gostava de ir para o sítio do meu tio e brincar com meus irmãos e meus primos por lá. A título de curiosidade, eu também já fui picada por um escorpião, mas nesse caso, eu já era adulta. Colecionadora de picadas hahaha...

Bem, posso dizer então que guardo cicatrizes e marcas no corpo, no coração e na alma. Cada uma delas me ensinou muito. Essas e outras histórias marcaram a minha existência e forjaram a pessoa que eu sou. Creio que cicatrizes servem para nos mostrar, que estamos vivas(os) e que é preciso muita coragem para crescer e amadurecer.

Todavia, é importante que a gente não se identifique com as cicatrizes.

Pois, é: as vezes – sem perceber, a gente pode se identificar com a dor. Nesse caso, é comum achar que se algo está dando muito certo, é bom se precaver porque uma hora vai dar errado. Ou, se algo parece fácil, não tem valor; desconfiar quando as coisas estão indo muito bem e questionar o seu merecimento. Ou mesmo não perceber quando é hora de baixar as armas, porque a guerra acabou.

Outra perspectiva pode ser a de ter sofrido muito com alguns relacionamentos e se tornar descrente das relações, como se nenhum ser humano merecesse sua confiança, cuidado, dedicação e amor.

Voltando ao Kintsugi, quero terminar esse artigo com um pouco de poesia: Podemos escolher o que fazer com as rachaduras da vida. Preenchê-las com ouro e transformá-las, criando um ser humano forte, maduro e iluminado por suas marcas de coragem de viver. Ou deixar os cacos soltos e viver de forma fragmentada, sempre catando os caquinhos das “pedradas ao acaso”.

Termino – agora sim, com um vídeo no qual falo sobre os vitrais...

https://www.instagram.com/reel/C1wgF7xueHG/?igsh=eXg5Y2xlb2R4cmE0

 As cicatrizes na pele, no coração e na alma são a prova de que estamos vivos. símbolos de força, coragem, superação, aprendizado e maturidade.

Como está o seu vitral?

Aguardo seu comentário! Obrigada por estar aqui! 

A imagem que ilustra esse artigo é do Canva e representa uma obra desse artista que vale muito conhecer! https://www.billiebondart.com

Quem é Cynara Bastos?

Rosto de homem sério

Descrição gerada automaticamente

🧠 Psicóloga, mentora de líderes e docente em educação corporativa.

🧠Apoio profissionais a alcançarem um estado mental otimizado, integrando diferentes aspectos da inteligência para adquirir um nível elevado de autoconsciência, adaptabilidade e eficácia, utilizando seus recursos para evoluir para novas formas de liderança, sendo capazes de desenvolver melhores relacionamentos, explorar o ambiente de negócios identificando possibilidades e riscos, gerando ações e soluções se valendo de um novo alcance mental.

Acumulando experiências com grandes grupos educacionais como Ibmec e Insper, já atendi companhias de diversos portes e segmentos através da Panta Rei e Consultorias Parceiras, em programas de desenvolvimento de liderança como: ArcelorMittal, Magnesita, Piracanjuba, Master Drilling Brasil, Celeo Energia, Chilli Beans, Galderma, Constance, Sisprime, Syngenta, Grupo Tauá, Grupo Tenda, Localiza, entre outras.

 

गृहपतये नमः

Om Grhapataye Namah


 


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