Muito se tem falado sobre as significativas mudanças nas famílias em especial o grande aumento das famílias “matrifocais” ou “matriarcais” – aquelas nas quais a família é mantida e conduzida pela mãe(ou por uma mulher).
Antes subjugada, diminuída e a mercê do jugo da sociedade machista, hoje a mulher conduz e mantém uma família, mesmo com a existência de um homem no seio desta. Noutros casos, há uma mãe que fez uma “produção independente” e o pai “não existe”. E dentre várias outras facetas da família moderna, há aquela em que a mãe e o pai se separaram e se casaram novamente, surgindo outros “pais”.
Antigamente, o homem deveria manter a família e a mulher cuidar dos filhos e da casa. Em problemas de disciplina dos filhos, a mãe dizia: “Você vai ver quando seu pai chegar!” O pai era literalmente a “figura da lei”. Hoje a mãe pode às vezes repreender o pai, por estar chamando atenção do filho! Noutra situação, o pai deixa e a mãe não deixa! À parte as questões de cada casal, temos homens cada vez mais confusos com esta nova configuração familiar.
Em psicanálise, fala-se na função paterna (da ordem da linguagem e da palavra), esta, primordial para que se dê a passagem pelo complexo de Édipo culminando na melhor das hipóteses com a interdição do incesto e a introjeção da lei. Nas palavras de Hélio Pelegrino: “Ele (a criança) internaliza a proibição do incesto e se identifica com os valores paternos. Desta forma, cumpre uma etapa fundamental que o prepara no sentido de se tornar sócio da sociedade humana”.
Temos ainda a função de Pai e a pessoa a que se chama Pai! Vejam então que grande confusão! Não necessariamente aquele que exerce a função paterna, o papel de pai e aquele a que se chama pai, serão as mesmas pessoas. E diferentemente do que se acredita, não é a ausência ou presença, nem o comportamento do pai que vai definir se é ou não pai e ainda se é bom pai ou mau pai.
Reitero que o mais importante é que a função de pai seja exercida e que através desta, o complexo de Édipo seja superado e aqui, o pai é aquele que no registro do sentido, adquire sentido como pai para o sujeito, e isto tem a ver com o desejo e com a lei.
“Portanto, é em outro lugar e não nas modalidades da presença real ou da ausência real que do homem na família, em outro lugar e não nas condutas ou particularidades de personalidade apreciadas em relação às normas que definem o que é um pai de família, que se deve procurar a eficácia da função paterna”. (Hurstel)
Bem, este é outro assunto que renderia mais algumas páginas! Mas o que quero ressaltar é que repetindo, não necessariamente aquele que exerce a função paterna, o papel de pai e aquele a que se chama pai, serão as mesmas pessoas. E que as novas configurações familiares têm deixado todos os membros confusos com relação aos seus respectivos papéis. Desta forma é importante que pensemos sobre isso e que possamos conversar sobre nossos sentimentos com relação a toda essa confusão!
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