segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Por um pouco mais de humanidade



Humanidade: 1. A Natureza Humana,  2. O gênero humano, 3. Benevolência, Clemência, Compaixão. Dicionário Aurélio


Alguns dias atrás, vimos a cena lamentável provocada pela ação da cinegrafista húngara que propositadamente, derrubou o senhor Mohsen, que carregava seu filho Zaid nos braços, depois que tentou junto de outros refugiados, furar uma barreira policial na cidade húngara de Röszke, perto da fronteira com a Sérvia. Depois, vimos a declaração de uma famosa atriz brasileira dizendo que as mulheres gordas lhe incomodam profundamente. Que sente repulsa, rejeição. E que isso é que nem cabelo rastafári. E ela termina sua frase assim: “Agora me diz: por que eu tenho de ser boazinha com a gorda e o cabeludo rastafári?”. 

A cinegrafista que derrubou o senhor Mohsen, depois de toda a repercussão de seu ato, disse que não é uma pessoa sem coração, racista, que chuta crianças. É apenas uma mãe desempregada com filhos pequenos que tomou uma decisão ruim. No fim, pede desculpas. As imagens nos diversos meios de comunicação mostram que ela tentou também derrubar uma criança que corria de mãos dadas com sua mãe.

Quero comentar sobre tudo isso de forma cuidadosa, porque meu desejo com este texto não é crucificar ninguém, e sim convidar a todos para uma reflexão muito importante.  A cinegrafista parece tentar justificar seu ato pelos problemas que tem passado em sua vida. Mas eu fico me perguntando: o fato de você estar passando dificuldades faz com que você tome atitudes contrárias aos seus valores e convicções? Eu compreendo que situações extremas podem levar uma pessoa em desespero a cometer atos que talvez em outra situação ela não cometeria. Mas o que essa moça fez, no meu entendimento é falta de humanidade. Porque não podemos permitir que a nossa dor e os nossos problemas nos tornem desumanos e insensíveis às dores dos outros.  Será que ela vem acompanhando o horror que essas famílias têm vivido na Síria? Será que ela consegue se colocar no lugar daquele pai que queria encontrar um lugar seguro para o seu filho? Que queria garantir a integridade e a diginidade daquela criança?

Talvez vocês possam achar que estou “misturando alhos com bugalhos” a falar desta situação e da declaração daquela atriz. Mas o fato é que no fim, trata-se nos dois casos de falta de humanidade. Talvez em maior ou menor grau se é que posso falar nesses termos.

Sobre a fala da atriz, fico pensando na sua irresponsabilidade ao dizer algo assim. Como pessoa pública ela é alguém que tem o poder de formar a opinião pública. E a mensagem que ela escolheu deixar foi: sejam preconceituosos(as) e não se preocupem em respeitar essas pessoas. Se você não gosta de como elas são ou estão, não precisa considerá-las. Ela ainda se pergunta num tom de completa alienação: “Por que eu tenho que ser boazinha com elas?”. 

Aí eu vejo muita gente se lamentando pelas mazelas de nosso país e do mundo, e das dificuldades que vimos encontrando aqui e ali. O mesmo acontece nas organizações. Muitas vezes, nós esquecemos que o mundo é feito de pessoas. E que as nossas ações determinam o que acontece em nossa zona de influência. Então deixo o convite para que exerçamos o protagonismo em nossas vidas. Agindo com humanidade, exercendo nossa cidadania de forma responsável,  lutando contra o preconceito, adotando uma postura reflexiva antes de propagar uma ou outra informação, munindo-nos de conhecimento de autoconhecimento, para que possamos formar uma sociedade mais íntegra e justa. 

Deixo aqui o primeiro dos quatro compromisso da filosofia Tolteca:


Através da palavra torna-se possível a expressão do poder criativo. A palavra é um instrumento de magia: branca ou negra. Uma faca de dois gumes: pode materializar o mais exuberante dos sonhos ou destruir uma nação. Dependendo de como é usada, pode gerar liberdade ou escravidão. 

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