sábado, 16 de julho de 2011

Diferenças

Há algum tempo, venho exercitando o não julgamento e quando vou formar uma opinião sobre determinado assunto, tenho procurado fazê-lo baseando-me mais em fatos do que em emoções. Entretanto, essa semana, estava em uma loja de um shopping de BH, satisfazendo minhas necessidades capitalistas e ouvi, infelizmente algo que me deixou estarrecida. Uma mãe chamava atenção de seu filho porque ele estava fazendo birra e se comportando de uma maneira que ela não aprovava. Até aí tudo bem, mas não é que essa mãe acabou soltando a frase: “Você está parecendo um índio! Um selvagem, um menino de rua mal-educado e feio”. Não estou mentindo quando lhes digo que tive vontade de chorar. Imaginem só, se essa criança dá ouvidos ao que essa mãe fala? Se ele estava agindo de maneira errada, ou indesejada, ele se parecia com um índio ou um “menino de rua”.

Assim, acabo emitindo minha opinião, baseada no que vi e ouvi. Que essa moça não tem a mínima ideia do tamanho do preconceito que ela demonstra com uma fala dessas, talvez seja verdade. Que ela não respeita e não valoriza as diferenças, também pode ser verdade. Que ela não conhece nada sobre diferentes culturas é um fato. Pois é certo que um índio por ser índio não se comportaria “mal” naquela loja. Primeiro, porque ele não procuraria aquele ambiente, pois em sua vida e tradição, existem coisas muito mais importantes do que estar e uma loja do shopping, na tarde de uma quinta-feira. Segundo, porque ainda que ele por ventura, tivesse assimilado algo da cultura dos “brancos”, ele não estaria agindo como aquela criança. Sobre o “menino da rua”, caso pudesse ter acesso ao shopping – nunca vi um “menino de rua” no shopping , ele não estaria fazendo birra ou sendo “feio” dentro daquela loja, porque o fato de ser de uma classe menos favorecida só o faz agir de maneira diferente da nossa, não necessariamente pior ou melhor do que o filho dela.

Me ocorreu ao final de tudo isso, que essa criança está correndo um sério risco de se tornar um adolescente e um adulto preconceituosos e maldosos. Um daqueles que cometerá bullying em sua escola e se julgará acima do bem e do mal. Podem achar exagerada essa minha previsão, mas lhes asseguro que a coisa pode bem começar desta maneira.

Torçamos para que essa criança possa ter outros exemplos, que lhe mostrem que ser diferente é legal, que devemos respeitar os outros povos e culturas e que cada um de nós, com seus erros e acertos tem muito a aprender nesse mundão a fora, com índios, negros, brancos, homossexuais, idosos, etc, etc, etc...

Convido-os a ler meu texto sobre minha opinião no que se refere ao bullying postado aqui no blog em 24/06/2010.

5 comentários:

  1. Cy, concordo contigo. Se a criança indígena ou mesmo o "menino de rua" estivessem ali naquele ambiente, poderiam ter um comportamento talvez semelhante ao do filho dela, ou talvez não...educação e raça são coisas distintas...que essa criança possa realmente ouvir coisas mais cabíveis e internalizá-las. O que dói é: como cobrar das crianças alguns comportamentos se os exemplos mais próximos são deste tipo? Bjs

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  2. Ei colega, mas que frase infeliz a desta mãe, hein? Em poucas palavras, ela deixou transparecer vários preconceitos... tomara que esta criança possa ter outras situações de amor e de resgate do exemplo de respeito, que não a deixem interiorizar estes sutis preconceitos. Parabéns pelo post. Beijos, Myriam.

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  3. Até os cinco anos de idade, mais ou menos, possuimos uma crença que pode ser chamada crença de nível zero, que significa: "meus pais dizem a verdade". Por causa desta crença, aprendemos a crer no Deus que nos é apresentado, que manga com leite faz mal,e por aí vai. Acabamos por fazer conosco o que fizeram conosco, e fazemos com os outros o que fizeram conosco. Provavelmente, esta mãe pode ter sido "educada"
    do mesmo modo. bjs

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  4. Cy...eu pensei isso ontem após presenciar outra cena igualmente estarrecedora. Fiquei pensando se a violência não tem começado dentro de casa, com a fala e as ações dos próprios pais, desde a tenra idade. E aí eles são isentados, futuramente, da responsabilidade pela agressividade dos filhos...
    A cena que vi e ouvi foi de uma mãe ao telefone, com os dois filhos pequenos ao lado, escolhendo roupas. Ela falava com alguém do outro lado sobre, possivelmente, o companheiro. E dizia "por mim ele era atropelado, a roda podia passar na cabeça dele e os miolos dele estourados no chão". Os garotos, com roupas a experimentar nos braços, esperava e escutava a fúria da mãe diante do próprio pai, imagino. As pessoas estão cheias de raiva, de casos mal resolvidos, e não tem dimensionado as reaçoes perante as crianças, que estão, a todo momento, de antenas ligadas ao comportamento daqueles à sua volta. E quando reproduzem, são, muitas das vezes, bravamente repreendidos. Espinhos são lançados em forma de preconceito, de intolerância, egoísmo, falta de amor...onde a gente vai parar assim?
    Parabéns pelo texto!

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  5. Queridos, obrigada pelas belas contribuições! Que este possa ser sempre um espaço de construções e desconstruções!
    Com carinho,
    Cynara

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