Insisto neste texto sobre um tema
que já está um pouco desgastado, mas pelo que percebo, também pouco
compreendido e mal resolvido. Digo isso porque se não entendermos quais são as
bases da Síndrome do Impostor e como podemos nos imunizar dela, talvez continue
nos assombrando e também, às novas gerações.
Começo pelas origens do drama.
Muitos de nós têm uma grande ferida no que tange à autoestima, alimentada
muitas vezes pela ideia que desenvolvemos desde a infância de que só seríamos
amados se fôssemos perfeitos. Adotamos algumas vozes externas como nossas e
essa voz vira nosso crítico interno. Um juiz duro, que avalia tudo, tudo, tudo
o que fazemos. Nos dedicamos a ser o “bom filho”, o “bom aluno” e essa ideia
vai reverberando ao longo da vida: ser o “bom amigo”, o bom funcionário, o bom
líder”.
“Buscar o amor incondicional é
como buscar que o outro nos dê a nossa própria consciência. É impossível
encontrar o buscado porque a pessoa literalmente, é o que ela está buscando.
Enquanto ela não descobrir seu próprio amor incondicional no interior de si
mesma, será impossível encontrá-lo no mundo externo. Essa é a raiz da Síndrome
do Impostor.”
Observe essa história, contada
pelo Fredy Kofman, no livro Metamanagement: Um CEO considerado brilhante por
todos que o rodeiam, conta que na véspera do seu primeiro dia na escola primária,
estava aterrorizado. Ele acreditava que se não se saísse bem na escola,
perderia o amor e o respeito dos seus pais. Sem perceber, ele estava soluçando.
Seus pais o ouviram chorar e foram conversar com ele, para entender o que
estava acontecendo. Ele se abriu. A resposta dos pais, de acordo com ele, foi
carinhosa: “não se preocupe filho, nós sabemos que você vai se sair muito bem
na escola.” Só que o que ele queria ouvir era que tudo bem se ele não se desse
bem na escola. Ele continuaria sendo amado se falhasse.
Nessa tentativa de conquistar o
amor e admiração de quem amamos, alguns se prendem ao mindset fixo, bem
explorado pela Carol Dweck que diz em suma: o fracasso deixa de ser um fato (eu
fracassei), para uma identidade (sou um fracassado). No fundo, ficamos com a
mensagem de que falhar é ruim, mostrar nossas vulnerabilidades é sinal de
fraqueza. E quando conquistamos aquilo que nos parece um grande feito, temos
medo de perder, ou de não sermos merecedores daquilo, porque no íntimo, criamos
uma ideia de que as pessoas que têm êxito nasceram com uma estrela na testa e
são infalíveis.
Eu não deveria estar aqui, vão me
descobrir, eles vão perceber que eu não sou tão bom assim. Todas essas frases
são características das vítimas da síndrome do impostor.
Tendemos a superestimar os
outros, vendo-os como super capazes de tudo, inclusive de serem amados, de
obterem conquistas, empregos e resultados melhores.
Me diga, você já recebeu um
elogio de alguém que você admira muito? Como você se sentiu? Quando eu ainda
era acometida pela síndrome do impostor com certa frequência, tendia a quase
recusar o elogio.
Com o tempo, fui fortalecendo
minha autoestima e comecei a ter conversas significativas com muita gente
bacana, corajosa, que atingiu grandes êxitos... e elas me admitiram que também vacilam,
têm dúvidas, têm medo e isso me permitiu olhar de forma mais compassiva para
mim mesma.
O vício pela excelência e a perfeição, nos cegam sobre o fato de que somos humanos falíveis.
Você pode se proteger da síndrome
do impostor, se assegurando sobre o seu valor. Não se trata de sair buscando
novas conquistas, novos cursos, diplomas etc. Enquanto você não reconhecer esse
valor aí dentro, você vai chegar no MIT e duvidar da sua competência,
aguardando apenas que venham desmascará-lo, como aconteceu com o próprio Kofman.