terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Resiliência: diferentes perspectivas

Estudando sobre a resiliência descobri coisas interessantes e por isso compartilho...

Entre as décadas de 70 e 80, pesquisadores norte-americanos e ingleses voltaram sua atenção para as pessoas - em especial crianças, que passavam por severas dificuldades, mas permaneciam saudáveis. Chamaram-nas de invulneráveis e o fenômeno de invulnerabilidade. Posteriormente, esse termo foi substituído por resiliência.

Entre os pesquisadores ingleses e norte-americanos precursores dos estudos sobre a resiliência, e os brasileiros e outros falantes da língua latina, há diferenças na maneira de se entender e apresentar as origens do tema e também em suas concepções de resiliência. Os pesquisadores brasileiros de um modo geral, afirmam que a ideia por traz do termo veio da física, mais especificamente do tema sobre resistência dos materiais, sendo que os pesquisadores norte-americanos e ingleses, nunca mencionaram qualquer relação com esta disciplina.

Verifica-se que dicionários da língua portuguesa e inglesa apresentam significativas diferenças ao explicarem o termo.  Se procurarmos a palavra resiliência no dicionário da língua portuguesa, encontramos: “Resiliência [do ingl. resilience] S.f. 1. Fís. Propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora de uma deformação elástica. 2. Fig. Resistência ao choque”. Importante ressaltar que até 1990 o termo nem fazia parte do vocabulário coloquial brasileiro. Já nos dicionários da língua inglesa, as palavras resilience e resiliency ao que tudo indica, já faziam parte do vo­cabulário coloquial de falantes desta língua há mais de 30 anos, com uma significação menos “técnica”, menos ligada à física, e mais relacionada a fenômenos humanos.

Um artigo de estudantes da UFMG (informações ao final deste texto) mostra que na verdade o conceito da física chamado resiliência não é o mais adequado para denominar o que se chama de resiliência no campo de pesquisa brasileiro e latino, sendo mais adequado neste caso o conceito de “elasticidade”. O artigo mencionado explica mais detalhadamente a razão.

Para os falantes da língua inglesa, a palavra já era conhecida – fora do âmbito da resistência dos materiais – e provavelmente foi escolhida por ser considerada adequada para designar os fenômenos que eram estudados e que abrangiam capacidade de resistên­cia a pressões e estresses.

A resiliência no entendimento dos latinos (incluindo brasileiros) está relacionada à resistência ao estresse, mas também aos processos de recuperação e superação de abalos emocionais causados pelo estresse.

Pensando sobre essas definições, a de origem anglo-saxônica e a de origem latina, eu fico pensando se é realmente possível passar por grandes reverses na vida e permanecer impassível. Acredito que é totalmente possível passar por situações adversas e superá-las e que podemos lançar mão de diversas estratégias e recursos para isso, mas tenho dúvidas se a resiliência tal como entendida pelos norte-americanos realmente existe, ou se na verdade essas pessoas que se apresentam resistentes ao estresse, não têm suas marcas internas. Creio que podemos sempre escolher entre sucumbir ou seguir em frente. Mas tudo o que vivemos, positivo ou negativo, deixa marcas em nós e não há como fugirmos disso.

Adoto então o seguinte conceito de resiliência: a capacidade de superar e enfrentar adversidades de forma saudável. Saber buscar e utilizar recursos e estratégias para a superação de problemas e outras situações estressantes, sem se entregar.


Artigo mencionado: A construção do conceito de resiliência em psicologia: discutindo as origens - Disponível em: www.scielo.br/paideia  

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