sábado, 3 de fevereiro de 2024

Relacionamentos: expectativas, maturidade e possibilidades

 




Não procure o bem fora se você não sabe o bem que tem. Esse foi um insight que tive um dia desses. Como vocês sabem, venho buscando vencer algumas ideias que o Mito do Amor Romântico nos trouxe, fazendo com que tivéssemos cada vez mais expectativas em relação a um amor que estaria guardado para nós em algum lugar. “Em algum lugar, a pessoa certa me espera.” Não, isso não é verdade.

O que é possível é o encontro de dois humanos imperfeitos que decidem se dedicar a uma relação construída dia a dia por essas duas pessoas. Elas estarão dispostas a compreender uma à outra, mesmo em seus momentos mais difíceis. Estarão dispostas a perdoar as falhas uma da outra e também a si mesmas.

E estarão conscientes quanto ao fato de que no amor não há garantias. O verbo deve ser praticado dia a dia. E ainda sim, o outro pode decidir partir. O amor só existe quando na possibilidade de partir, a pessoa escolhe ficar. E para as pessoas maduras e conscientes, essa escolha é feita todos os dias.

Sim, em algum lugar, há uma pessoa: madura, corajosa e intencionada a criar uma relação rica, verdadeira e próspera.

O Mito do Amor Romântico está associado à história do amor que o Romantismo, desde meados do século XVIII “plantou em nós”. Desde então, regras, normas e ideias sobre o amor começaram a nortear nossas vidas – em especial os relacionamentos amorosos. O que é muito marcante nessa perspectiva é a idealização do outro e principalmente uma expectativa ingênua, eu diria, até mesmo infantil, de que o outro lê, ou deveria ler nossos pensamentos; que o amor é fácil e mágico; que em algum lugar há a tal “tampa para cada panela.”

 

Silenciosamente, essas ideias entram nas nossas mentes e nossos corações e são potencialmente nocivas para a possibilidade da construção de relacionamentos maduros e sustentáveis. “Ah, isso é amor”, “Isso não é amor”, quanto essas ideias já passaram pela sua cabeça? O fato é que dois adultos, podem construir o seu jeito de se relacionar, que demandará honestidade, respeito, carinho, cuidado, boa vontade, AMOR! Mas apenas se pensarmos no amor como essa construção da qual eu venho falando e se compreendermos que nada está escrito em pedra, ou pelo menos não deveria, aí sim, nos veremos mais livres dessa idealização do amor, para algo humanamente possível.

 

Então, volto ao meu insight que trouxe no início desse post. Não procure o bem fora se você não sabe o bem que tem. Se você não encontrar amor suficiente dentro de ti, se não compreender que você não precisa ser completada(o) é provável que você encontre muitas pessoas com as quais estabelecerá relações imaturas, nas quais você espera muito do outro, porque se sente menor, ou carente de um afeto, que precisa em primeiro lugar, vir de dentro de ti, para você mesma(o).

 

Você com certeza deve ter ao seu lado, pessoas que lhe façam bem. Mas em primeiro lugar, seja você a pessoa a se fazer bem. A começar por não aceitar que alguém esteja com você pela metade. Você não PRECISA de alguém, você pode QUERER construir uma relação especial com alguém, na qual as duas pessoas estão inteiras, dispostas a se relacionar de uma forma respeitosa, com parceria, companheirismo e amor, principalmente esse amor verbo, do qual venho falando tanto.

 

Quando a gente aprende a se relacionar com o outro de uma forma mais madura, compreende que há que se ter espaço para a individualidade de cada um, afinal é como li outro dia “Se o casal é um só, um dos dois já deixou de existir.”

 

Vejo muitas pessoas presas a relacionamentos difíceis, complicados, às vezes até mesmo abusivos, porque elas não se percebem como alguém capaz de viver sem o outro, de ficar sozinhas, mesmo que por um período, apenas. Há na maioria das vezes, uma relação de dependência muito grande.

 

Reflita sobre isso! Precisamos desnaturalizar muitos padrões nas relações afetivas que não são “assim mesmo”. Relacionamentos são desafiadores, são coisas de gente adulta, madura e com muita vontade de construir. Não é fácil, mas também não é guerra e deve ser motivo de alegria. O sentimento e a percepção que precisa prevalecer para o casal é o de que estão crescendo, evoluindo, à medida que a relação avança!

 

Faz sentido? Deixe seu comentário! Ficarei feliz e grata em saber sua opinião!     

 

Cicatrizes e Kintsugi: Como aprender com as dores sem se identificar com elas

  Esses dias relendo meus escritos não publicados, refleti sobre a importância das cicatrizes, mas também sobre outro fato igualmente impo...