quarta-feira, 21 de abril de 2021

Afinal, quais são as bases da Síndrome do Impostor e como evitá-la?

 



Insisto neste texto sobre um tema que já está um pouco desgastado, mas pelo que percebo, também pouco compreendido e mal resolvido. Digo isso porque se não entendermos quais são as bases da Síndrome do Impostor e como podemos nos imunizar dela, talvez continue nos assombrando e também, às novas gerações.

Começo pelas origens do drama. Muitos de nós têm uma grande ferida no que tange à autoestima, alimentada muitas vezes pela ideia que desenvolvemos desde a infância de que só seríamos amados se fôssemos perfeitos. Adotamos algumas vozes externas como nossas e essa voz vira nosso crítico interno. Um juiz duro, que avalia tudo, tudo, tudo o que fazemos. Nos dedicamos a ser o “bom filho”, o “bom aluno” e essa ideia vai reverberando ao longo da vida: ser o “bom amigo”, o bom funcionário, o bom líder”.

“Buscar o amor incondicional é como buscar que o outro nos dê a nossa própria consciência. É impossível encontrar o buscado porque a pessoa literalmente, é o que ela está buscando. Enquanto ela não descobrir seu próprio amor incondicional no interior de si mesma, será impossível encontrá-lo no mundo externo. Essa é a raiz da Síndrome do Impostor.”

Observe essa história, contada pelo Fredy Kofman, no livro Metamanagement: Um CEO considerado brilhante por todos que o rodeiam, conta que na véspera do seu primeiro dia na escola primária, estava aterrorizado. Ele acreditava que se não se saísse bem na escola, perderia o amor e o respeito dos seus pais. Sem perceber, ele estava soluçando. Seus pais o ouviram chorar e foram conversar com ele, para entender o que estava acontecendo. Ele se abriu. A resposta dos pais, de acordo com ele, foi carinhosa: “não se preocupe filho, nós sabemos que você vai se sair muito bem na escola.” Só que o que ele queria ouvir era que tudo bem se ele não se desse bem na escola. Ele continuaria sendo amado se falhasse.

Nessa tentativa de conquistar o amor e admiração de quem amamos, alguns se prendem ao mindset fixo, bem explorado pela Carol Dweck que diz em suma: o fracasso deixa de ser um fato (eu fracassei), para uma identidade (sou um fracassado). No fundo, ficamos com a mensagem de que falhar é ruim, mostrar nossas vulnerabilidades é sinal de fraqueza. E quando conquistamos aquilo que nos parece um grande feito, temos medo de perder, ou de não sermos merecedores daquilo, porque no íntimo, criamos uma ideia de que as pessoas que têm êxito nasceram com uma estrela na testa e são infalíveis.

Eu não deveria estar aqui, vão me descobrir, eles vão perceber que eu não sou tão bom assim. Todas essas frases são características das vítimas da síndrome do impostor.

Tendemos a superestimar os outros, vendo-os como super capazes de tudo, inclusive de serem amados, de obterem conquistas, empregos e resultados melhores.

Me diga, você já recebeu um elogio de alguém que você admira muito? Como você se sentiu? Quando eu ainda era acometida pela síndrome do impostor com certa frequência, tendia a quase recusar o elogio.

Com o tempo, fui fortalecendo minha autoestima e comecei a ter conversas significativas com muita gente bacana, corajosa, que atingiu grandes êxitos... e elas me admitiram que também vacilam, têm dúvidas, têm medo e isso me permitiu olhar de forma mais compassiva para mim mesma. 

O vício pela excelência e a perfeição, nos cegam sobre o fato de que somos humanos falíveis.

Você pode se proteger da síndrome do impostor, se assegurando sobre o seu valor. Não se trata de sair buscando novas conquistas, novos cursos, diplomas etc. Enquanto você não reconhecer esse valor aí dentro, você vai chegar no MIT e duvidar da sua competência, aguardando apenas que venham desmascará-lo, como aconteceu com o próprio Kofman.

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